quarta-feira, 23 de julho de 2014

JARDIM ANTIGO





jardim antigo



um fato aconteceu
no silêncio das flores do jardim abandonado
entre os arbustos
e folhas secas

aumentaram as cores
a vivacidade variada
libertaram
não sabem a nenhum
germinam grandes entre pedaços de
estatuária
debaixo de pedras
dentro dos tanques surdos

somente perdidos anjos
e o cão preto
aquelas aves desgarradas
aquelas murtas velhas
não a vêem

à noite um lagarto verde
entre as estrelas azuis

as flores dormem

as flores há muito tempo lá estavam
elas dormem

segunda-feira, 7 de julho de 2014

despertar paredes brancas

despertar paredes brancas
despertar paredes brancas, despertar
brancas folhas de papel dormentes
desviar o curso de um regato na encosta
da floresta que canta a sua canção de vento
entornar um pouco desse copo automático
funcionar minhas molas de rascunho pressionadas
retomar o fio da leitura interrompida
iludir o tempo de marcar esta postagem

sábado, 5 de julho de 2014

Noite negra


Noite negra
Noite. Noite negra, nessa montanha.
Negra noite
Unidos pelo mesmo hálito,
o mesmo manto sem estrelas.
Nesse mundo, onde estamos nós?
Nessa noite negra. Tão negra
que deixamos acesa aquela luz.
Entre nós. Nossas luzes.
Negra noite.

CALIFORNIANO















CALIFORNIANO


No ponto Sul o vôo vem no mel
Boeing com seu som martelo ponto certo
Quem me espera? porque vem
o mais tarde amor
corta no ar do meu voto
caio nas suas cores
saio das suas plumas
chego.

terça-feira, 1 de julho de 2014

uns poemas

uns poemas
 
tecíamos quando falávamos
uníamos teias de reflexões
como aranhas mútuas de linguagem
uníamos costuramos sobre a mesa
cosemos, ponto por ponto, as bordas de uma
estrutura, de uma costura,
bordados sobre o meu ar
"e o cavalo na montanha"
 
 
 

Não quero rever o segredo


   Não quero rever o segredo
      o teu copo de mar
      nem a horta colher a medo
      por quem a imitação da forma
      é a porta por entrar
      a costura da imagem
      da pele mais quente amar
      que fria ou quente acessórios
      são para o tom certo aplainar
      ou a tonalidade vazia
      que nada sabe o enredo
      em que  quero aprisionar
      e por onde passa o espelho
      lançado sobre o luar
      oriunda onda onde queres
      neste oceano me levar?
  (17/outubro/99)
 



 

Não posso reter os teus traços


Não posso reter os teus traços

Nem as notas de teu tema

Pois tua música se desvanece

Como as vozes do poema

Da paixão, que mais um traço

Foi do azul de minha pena,

E quando eu te vir já será garço

Repique fraco a tua cena

O afastado abraço

oriunda onda a que cerca de aço

Me levarão essas algemas?

              

     

chuva na cidade

chuva na cidade
 
rogel samuel
 
porteiros lavam as calçadas
ou varrem para o meio-fio
 
viúvas saem a passear com o cão
andando devagar
 
homens de terno tiram os carros das garagens
deixando dormindo suas esposas
que sonham com os amantes
 
há uma brisa fresca neste fim de verão
o dia nublado
 
 

e eu bebo veneno pelos olhos

e eu bebo veneno pelos olhos
quando vejo a tua forma de partir
que ela se torna numa larva negra
espuma do mar fervente em cada mão
o desiderato rumo dessa casa feita
linha errada em cada chão, o não
estarmos à roda desfibrada, a estrema
linha do mar que nos fareja, o vão
distúrbio funcional, minha malignidade
espectro desse estado quando morto
vagueia entre nós a nos aterrorizar
humores, forma aquosa, vítrea,
cristalina capa de estampadas letras
eras de superfície, punção, gata morta
costurada no leva e traz das ondas da maré
marco divisório de teus passos
 
(Bournemouth, UK, 19 de agosto de 2007)
 

POEMA

    a noite não será tão negra enquanto eu puder ouvir a sua canção nem saberei de dor enquanto navegar nas suas águas límpidas nas suas ima...